Cascas quebradas, ninhos destruídos, nenhum ovo. Esses são alguns dos indícios que estão levando pesquisadores do Instituto Mamirauá a monitorar ninhos de jacaré-açu (Melanosuchus niger) e jacaretinga (Caiman crocodilus) para identificar seus predadores. “Esse estudo visa entender a ecologia e a implicação que a predação tem não só para a conservação da população de jacarés, mas para outras espécies, que se alimentam desses ovos também”, disse Kelly Torralvo, do Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Jacarés do Instituto Mamirauá.
A pesquisa apontou um índice de predação em 36% dos 408 ninhos monitorados nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 2013. “A identificação das espécies predadoras de ninhos foi baseada em vestígios. Quando a gente trabalha com vestígios, conseguimos identificar quem são os predadores”, relatou Kelly. Segundo a pesquisadora o estudo aponta que o homem, em 29,73% dos casos, e o jacuraru, em 22,3%, um lagarto amazônico, são os maiores predadores, além do macaco-prego, 8,78%, e a onça-pintada, 6,76%. Foram atribuídos como mais de um vestígio em 25% das predações e 7,43% não identificado.
As atividades de monitoramento consistem em expedições diárias para encontram os ninhos que estão nos montes de folhas e gravetos. Mas é preciso ter cuidado, pois esses montes estão nas bordas dos lagos e as “mamães” estão por perto. O jacaré fêmea tem cuidado parental, o que significa que ela fica vigiando o ninho até 90 dias, período que os ovos levam para eclodir. Alguns ninhos são abertos para contagem do número de ovos, medição e peso. Em média, cada ninho possui entre 30 e 40 ovos.
Cada predador deixa seu vestígio, dessa forma é possível identificá-los, explicou Kelly: “Quando há um buraco no ninho e as cascas estão quebradas e próximas ao ninho são vestígios que a gente atribuiu ao jacuraru. A onça deixa suas pegadas e o ninho fica bem mais destruído e as cascas mais espalhadas. Quando o buraco aberto está “organizado” e não há nenhum ovo certamente foi o homem”.
Em 2013, pesquisadores do Instituto Mamirauá também iniciaram um projeto utilizando armadilhas fotográficas para monitorar os predadores. “Com as câmeras poderemos investigar a relação entre o predador e os ovos, procurando responder outras questões como quem chega primeiro ou quem vem depois. Acreditamos que possa ter um predador primário, aquele que abre o ninho, que deixa o ninho vulnerável e a mostra para os outros predadores”, elucidou Kelly.
A predação é uma importante fonte na cadeia alimentar e deve ser considerada como uma relação natural de mortalidade para muitos animais. Mas o monitoramento e o maior conhecimento das formas como acontece podem colaborar na preservação das espécies na Amazônia. Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no 11º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia, promovido pelo Instituto Mamirauá. O estudo também é conduzido pelo pesquisador Robinson Botero-Arias, responsável pelas pesquisas com jacarés no Instituto Mamirauá.
Com informações da assessoria