Na região do Médio Solimões, a realização de um parto em comunidades distantes dos centros urbanos não é tarefa fácil. Comumente são realizados partos domiciliares, assistidos por parteiras tradicionais, que muitas vezes acompanham a saúde da mãe durante a gravidez, o nascimento, crescimento e o desenvolvimento da criança. Essas mulherespapel nessas comunidades, com sua sabedoria popular e tradições familiares, conhecimento, muitas vezes, repassado de mãe para filhos. Com o objetivo de colaborar para a melhoria do atendimento (ao parto domiciliar) nessas localidades, cerca de 33 parteiras da região do Médio Solimões participaram do Encontro de Parteiras Tradicionais, realizado em Tefé (AM) entre 27 e 31 de outubro.
“As parteiras têm um papel importante na comunidade, estão ali pra apoiar, dar orientações para as mulheres. Com o curso, oferecemos o conhecimento. Mas a gente tenta, principalmente, que o poder público aceite o valor dessas mulheres”, reforça Maria Mercês Bezerra da Silva, técnica em enfermagem do Instituto Mamirauá.
O encontro é uma parceria entre o Grupo Curumim, o Instituto Mamirauá e o Governo do Amazonas. Durante os cinco dias de atividades, foram tratados temas como o fortalecimento da identidade dessas mulheres e valorização do ofício, diagnóstico da realidade local, a partir do discurso das parteiras, além de parte teórica, com informações sobre anatomia e fisiologia, pré-natal, parto, pós-parto, complicações do parto e saúde e cuidados com o bebê. As mulheres que participaram do curso receberam um livro didático com informações importantes para o desenvolvimento da atividade. A novidade do curso foi o material, com a prática e a teoria de reanimação neonatal, que segundo a pediatra Rossiclei Pinheiro de cada 10 bebês nascidos vivos, um nasce em sofrimento fetal e a ação e o cuidado imediato, ajudam e colaboram para recuperar esse bebe que nasceu com necessidade de reanimação.
No final do encontro, foram distribuídos kits com equipamentos de apoio para uso das parteiras. O kit é oferecido pelo Programa Rede Cegonha, do Governo Federal, e possui material básico para o parto como luvas, gazes e álcool; materiais de reanimação neonatal, como ambu (respirador manual), com válvulas e máscara, estetoscópio, entre outros equipamentos. Também constam no kit itens de proteção da parteira, como avental, toucas e luvas. As mulheres receberam treinamento da utilização, manutenção e cuidados desses materiais com uma médica da Sociedade Brasileira de Pediatria.
“Começamos a trabalhar nessa parceria com o Mamirauá desde 2001, realizando esses encontros. A parteira é um elo entre a comunidade e o serviço de saúde. E ainda hoje, elas passam por muitas dificuldades e falta de reconhecimento. Por isso, precisamos melhorar a articulação das parteiras, e do trabalho que elas fazem, com o sistema de saúde”, reforçou Paula Viana, coordenadora do programa Parteiras do Grupo Curumim.
Maria Nilce Cavalcante Martins é parteira e há cinco anos dá assistência às mulheres da comunidade Boca do Mamirauá, localizada na Reserva Mamirauá. Ela conta que aprendeu o ofício com a mãe, que também era parteira. “Na comunidade, as coisas ficam mais difíceis, as mulheres grávidas ficam sem direção, precisam de uma pessoa pra orientar. Sempre gostei disso, desde quando minha mãe era viva. Ela era parteira, eu gostava de ficar com ela, participando, ela gostava muito de assistir as pessoas que precisavam. Agora já tem muito estudo pra gente aprender, já estou com dois cursos, esse é o terceiro que faço”, afirmou dona Nilce.
Com informações da assessoria
Foto: Amanda Lelis