Com foco na realidade das escolas do interior, Instituto Mamirauá finaliza evento em Manaus

A exposição “Protagonistas” foi uma das atrações do evento.

 

Terminou ontem, em Manaus, o evento “Diálogos em Educação Ambiental Comunitária”, promovido pelo Instituto Mamirauá, entre os dias 09 e 11 de outubro, no Les Artistes Café Teatro. O encontro contou com a participação de cerca de 100 pessoas. Durante três dias, participaram das discussões sobre educação ambiental incluindo as metodologias usadas pelo Instituto Mamirauá em escolas do interior. “Sair de Tefé e conversar com outras pessoas, que se mostraram muito curiosas sobre o trabalho do instituto, foi muito válido. A gente teve a oportunidade de esclarecer sobre as metodologias, como fazemos, os impactos e os resultados desses mais de vinte anos de trabalho”, avaliou Cláudia Santos, do Programa de Gestão Comunitária do Instituto Mamirauá, uma das organizadas do evento.

De olhar tímido e fala tranquila, mas uma incondicional defensora da educação rural. Esse é o perfil da professora Lidiane Cauper que acompanhou o  evento e trabalha no município de Maraã há 15 anos. Atualmente, é educadora na Escola São Francisco, na comunidade Manacabi. A escola, que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, representa uma realidade da maioria das unidades escolas do interior, que são, na sua grande maioria, de escolas multisseriadas. Na Reserva Amanã, são 42 escolas multisseriadas e apenas duas regulares. Na Reserva Mamirauá, a realidade também não é diferente: 92 multisseriadas e apenas quatro regulares.

“Eu estava fazendo magistério. No segundo ano de estudo, recebi o convite de um amigo para atuar na zona rural. E até hoje estou lá”, enfatiza a professora que define o trabalho na área rural árduo. “A gente enfrenta várias dificuldades, principalmente da escola, que não tem um meio físico adequado. Eu dou aulas à tarde e é muito quente. Fica tão quente que os alunos não conseguem escrever, fica pingando o tempo todo e aí você tem que dar um tempo. Nós sabemos que o ambiente físico colabora para o aprendizado. Mas eu estou lá porque eu quero colaborar. Eu estou lá para mostrar que é possível fazer esse trabalho, apesar das dificuldades”, reforçou.

Segundo Lidiane, a escola está bem na beira do barranco, “para cair”: “A gente já fez foto, carta, falou com várias pessoas, mas nada foi feito. Quando vai vereador lá, a gente leva para a escola, que é para eles sentirem e vê se eles ajudam a gente”, disse. “É difícil, mas, por outro lado, você aprende a cultura de cada comunidade. Como eu já passei por várias , a gente acaba tendo um conhecimento maior para lidar com as pessoas, com os alunos, e ao mesmo tempo que você está ensinando você está aprendendo sobre a cultura daquele local. Além da troca de experiência com várias colegas que estão no mesmo caminho que você”, ponderou Lidiane.

A realidade não é diferente na Reserva Mamirauá, conforme explicou o professor Rosicleudo Martins, da Comunidade Sítio Fortaleza, que fica no município de Uarini: “Na minha comunidade tem bastante problema, a começar pelo prédio da escola que nós não temos. Quando tá muito quente, a gente vai pra debaixo das árvores porque ninguém aguenta a temperatura de 40? graus do centro comunitário. Os políticos vão lá e só fazem prometer, mas fazer que é bom, ninguém faz”.

O grupo discorreu sobre a participação e o engajamento dos moradores dessas comunidades em pressionar o poder público por melhores condições no ambiente escolar. Por isso, Paulo Roberto e Souza, técnico do Instituto Mamirauá, lembrou uma canção de Milton Nascimento: “não há nada a fazer, senão esquecer o medo”. Medo, nesse caso, significa não desistir de lutar para mudar a árdua realidade das escolas do interior do Amazonas.  O encontro terminou com o diálogo “Perspectivas para a educação ambiental comunitária, porém crítica”, abordando teorias e reflexões que estão no debate da educação ambiental (comunitária), caminhos a seguir para ter uma prática crítica diante da conjuntura e o fechamento deste conjunto de diálogos com a ideia de levantar com o público perspectivas na atuação do/da educador/a ambiental.

“Diálogos em Educação Ambiental Comunitária” é uma realização do Instituto Mamirauá e conta com financiamento do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).

Com informações da assessoria / Foto: Aline Félix