Povos indígenas do Médio Solimões e afluentes realizam ato contra o Marco Temporal e fora Bolsonaro

De norte a sul, de leste a oeste do Brasil, os povos indígenas entraram em sintonia e sinergia e realizaram atos, manifestações e protestos contra a tese do Marco Temporal que coloca em risco o processo de demarcação das terras indígenas. O Levante pela Terra dos povos de todo o país acontece na data marcada para o julgamento do processo de reintegração de posse que sofre o povo Xokleng, de Santa Catarina. Esse processo tem caráter de Repercussão Geral e servirá como diretriz para qualquer outro caso de demarcação de terras indígenas.

Para defender seus direitos e manifestar repúdio à situação de ataque aos seus direitos constitucionais, na manhã de 30 de junho, na Praça Remanso do Boto, em Tefé, os povos indígenas da região do médio rio Solimões e afluentes, Kokama, Kanamari, Madija Kulina, Kambeba, Ticuna e Kaixana, das cidades de Tefé, Uarini e Carauari, também entraram na sinergia.

Manifestaram, pacificamente, seu repúdio ao Marco Temporal e ao Projeto de Lei 490. O ato foi convocado pela Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA) e contou com a força das lideranças indígenas, da equipe do CIMI na Prelazia de Tefé, demais aliados e parceiros indigenistas.

Pintados de urucum e empoderados com seus colares e cocares, segurando cartazes e faixas, ecoando palavras de ordem, as lideranças manifestaram toda a indignação e preocupação com os instrumentos jurídicos que ferem e afrontam seus direitos constitucionais. Leis que, abertamente, liberam a entrada da mineração, da exploração madeireira, do agronegócio e outras mazelas que colocam em risco a vida dos povos como ela é.

Ercilia Ticuna e Nazilde Kokama, membras da coordenação da AMIMSA, destacaram a importância dos povos indígenas se manifestarem nesse momento. _“Nossos direitos são conquistados com luta, pela educação, pela saúde e por todos os outros direitos. Quando eles estavam estudando nós, povos indígenas estávamos lutando para que eles tivessem empregados hoje querendo ser os donos de tudo que nós conquistamos. Os territórios indígenas é todo o território brasileiro. Não queremos ter mais direitos do que os não indígenas, queremos apenas que nossos sejam respeitados”_.

Raimundo Boaventura Kambeba, liderança da aldeia Barreira da Missão do Meio, da Terra Indígena Barreira da Missão, fala do descaso das autoridades pelos indígenas. _“Essas pessoas que estão no poder não querem saber se o indígena está sofrendo, se está passando mal, se quer uma terra para trabalhar, para viver sua cultura, sua sobrevivência. O que eles querem é acabar com o direito que o indígena tem. Somos contra o Marco Temporal, contra o PL 490, que ataca diretamente o direito tradicional dos povos indígenas sobre suas terras”._

Para o cacique Anilton Kokama, da aldeia Porto Praia de Baixo, que há anos vêm lutando contra invasores na Terra Indígena do seu povo, diz que os indígenas presentes não se deslocaram de suas aldeias para passear, mas para exigir que os deixem viver. _“Estamos aqui enfrentando frio, não viemos passear. Viemos para defender nossos direitos que vêm sendo atacados pelo governo atual. Queremos nossa terra demarcada. Somos contra o marco temporal, contra a desigualdade social. Só queremos que respeitem nossos direitos que já está garantido na Constituição Federal de 1988. Nós não vamos parar. Fora Bolsonaro!!”._

O Levante pela Terra mostra sua força para mudar o cenário político do país, que não está favorável aos povos indígenas. É preciso que povos originários ocupem os espaços de decisão em tudo o diz respeito aos seus direitos de vida e existência

*Com informações da assessoria/Foto: Divulgação