História de Tefé por Raimunda Gil Schaeken

Tefé é uma das cidades mais antigas e prósperas do Estado do Amazonas; Ponto geodésico da Amazônia Ocidental. Sua história é muito extensa, com lutas, vitórias e derrotas, apresentando-se, em séculos passados, como centro maior da disputa entre colonizadores portugueses e espanhóis.

Foi fundada entre 1686 e 1688, pelo austríaco jesuíta Pe. Samuel Friz, que lá trabalhou a serviço da Espanha. A união dos povos indígenas para formar a Cidade deve-se à obra de catequese do carmelita português Frei André da Costa, o verdadeiro fundador de Tefé (1718).

Visitada por várias personalidades da História do Brasil, Tefé mantém um carinho todo especial pelo saudoso e grande poeta Gonçalves Dias que, durante sua estada na cidade, cognominou-a de “Princesa do Solimões”. Esse título, aliás, ainda hoje, muito tem orgulhado os tefeenses.

Sua população, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, era de 59 849 habitantes. Sua área territorial é de 23.808 quilômetros quadrados, sendo o quadragésimo oitavo maior município do Brasil em área e o vigésimo terceiro do Amazonas.

Está distante 523 quilômetros de Manaus, capital do estado, e 2 304 quilômetros de Brasília, capital nacional.

A cidade fica às margens do lago Tefé, lago formado pelo alargamento do rio de mesmo nome nas proximidades de sua foz, que é um dos afluentes do Rio Solimões na sua margem direita.

De acordo com a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística vigente desde 2017 o município pertence às regiões geográficas intermediária e imediata de Tefé. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, o município fazia parte da microrregião de Tefé, que por sua vez estava incluída na mesorregião do Centro Amazonense.

SÍNTESE DA HISTÓRIA DE TEFÉ

Nos tempos coloniais, no fim do século XVII, o padre Samuel Fritz foi enviado para o Amazonas a serviço da Espanha. Ele fundou as primeiras missões jesuíticas para catequizar os índios. Tefé foi uma dessas aldeias. Fritz estava realmente convencido de que aquela região pertencia à Espanha. A Portugal, todavia, pouco importava essa convicção: o território era seu e como tal cumpria-lhe preservá-lo do domínio espanhol, que se implantava simultaneamente com a obra de catequese dos missionários espanhóis. Essas missões também eram responsáveis para prestar serviços sociais à comunidade indígena. Os portugueses, desrespeitando o Tratado de Tordesilhas *, subiram o Rio Solimões, vindos do Grão-Pará, com a finalidade de conquistar o Amazonas e dominar as terras dos espanhóis, o que resultou em um grande conflito entre as duas nações, quando estes chegaram à região.

*O Tratado de Tordesilhas foi um acordo assinado em 7 de junho de 1494 entre a Espanha e Portugal. Esse acordo visava a resolver conflitos relativos às terras em que Cristóvão Colombo e outros exploradores do final do século XV haviam aportado. Logo depois que a Espanha chegou pela primeira vez ao hemisfério ocidental, esse reino e Portugal entraram em conflito sobre os direitos de colonização do Novo Mundo.

Em 1493, após ouvir os relatos de Cristóvão Colombo, os monarcas espanhóis Fernando e Isabel procuraram o apoio papal para garantir suas posses territoriais no Novo Mundo.

Eles pretendiam inibir os portugueses e outros possíveis rivais. No mesmo ano, o papa Alexandre VI (que era espanhol) determinou a demarcação de uma linha que se localizaria 100 léguas (cerca de 885 quilômetros) a oeste de Cabo Verde. As expedições portuguesas deveriam manter-se a leste dessa linha. Todos os territórios a oeste dessa linha pertenceriam à Espanha. Em troca, a Espanha assumiria o compromisso de difundir o cristianismo no Novo Mundo.

Outras potências europeias, como a Inglaterra, a França e os Países Baixos, que também exploravam o oceano Atlântico, jamais aceitaram essa regra, tampouco qualquer outro acordo derivado dela.

O rei Dom João II de Portugal também ficou insatisfeito com a decisão do papa

Alexandre VI, não só porque os direitos de Portugal no Novo Mundo não haviam sido suficientemente afirmados, mas porque os navegantes portugueses não teriam espaço suficiente no mar para suas viagens à África. Para resolver esse conflito, embaixadores espanhóis e portugueses se encontraram na vila de Tordesilhas, na Espanha, em 1494.

Um novo acordo foi assinado e a linha foi movida, passando a localizar-se 370 léguas (1.900 quilômetros) a oeste de Cabo Verde.

Naquela época, ninguém sabia qual era a real extensão do hemisfério ocidental. Foi o Tratado de Tordesilhas que permitiu a Portugal tomar posse da região litorânea onde Pedro Álvares Cabral aportou em 1500 e que mais tarde veio a se tornar o Brasil.

Em 1534, o Brasil foi dividido em capitanias hereditárias, que eram faixas de terra individualmente colonizadas por um proprietário chamado de donatário. Ele, por sua vez, concedia a terra a agricultores. Em 1549 essas capitanias foram unidas em uma colônia, sob um governador-geral, com sede na baía de Todos-os-Santos. A nova cidade foi chamada de Cidade do Salvador, a primeira capital do Brasil.

O governador do Grão-Pará enviou tropas comandadas pelo Capitão Inácio Correia de Oliveira, em 1708, para expulsar os espanhóis e fazer evacuar ditas aldeias, das quais era responsável o padre João Batista Sana. Este, promulgou que Samuel Fritz deveria deixar a região do Amazonas, conforme ordem da Coroa Portuguesa. Samuel Fritz se retirou e foi até o Peru em busca de apoio para combater os portugueses. Em Quito, obteve uma força armada com que desceu o Maranhão e o Solimões, investiu contra as aldeias e cometeu toda sorte de depredações, aprisionando o comandante e muitos soldados da tropa inimiga. Muitos indígenas que lutavam em apoio aos portugueses morreram vítimas do confronto, e novamente os espanhóis voltaram a dominar a região, conforme já estava estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas.

Resolveu então o Governador do Grão-Pará enviar no ano seguinte nova expedição ao Solimões sob o comando do Sargento José Antunes da Fonseca. Coube dessa feita, a vitória às forças portuguesas que aprisionaram entre outros o padre Sana.

Em 1709, portugueses e espanhóis voltaram a entrar em confronto. Novamente, Portugal sai vitorioso, o que leva os índios a uma fuga em massa para o interior das matas e para a cabeceira do Rio Tefé. Essas lutas trouxeram a devastação das aldeias, e pouco tempo depois, o Frei André da Costa chega à região com a finalidade de cuidar das missões da Ilha dos Veados e Parauari. A partir de 1718 Frei André da Costa, temendo novos ataques dos espanhóis, subiu a cabeceira do Rio Tefé, onde encontrou um lago, fixando-se na margem direita deste com os sobreviventes.

No dia 13 de janeiro de 1750 foi firmado na capital espanhola, o tratado de Madri, entre os reis João V de Portugal e Fernando VI de Espanha, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas.

O tratado visava dar fim às lutas entre os dois países pela posse das terras do Norte brasileiro, e procurava delimitar o território de domínio dos dois países na região. A área de Tefé passou a ser usada como limite territorial do domínio das duas Coroas, mas ainda assim, nenhuma das duas nações mostrava-se disposta a ceder a região de Tefé, o que causava enorme discussão à época. Apesar da tensão, Portugal mantinha predominantemente sua influência sob Tefé.

Em 1833 o governo da província do Grão-Pará obtém o controle de Ega, devido a delimitação territorial feita no Tratado de Madri. Ega significava para os lusos, terra de promissão.

O Grão-Pará ignorou a denominação Vila de Ega e restituiu o nome da região para Tefé.

Tefé, palavra do Nheengatu, traduzia Rio Profundo. Vem de Tapi ou Tapé, derivada de uma extinta tribo de índios Tupebas ou Tapibas.

Em 1850, o Amazonas é desmembrado do Grão-Pará e elevado à categoria de província, sendo que Tefé passou a fazer parte da nova província. Cinco anos depois, em 1855, o Governo da Província do Amazonas elevou Tefé à categoria de cidade pela Resolução provincial n.44, de 15 de junho de 1855, com o nome de Tefé, tendo como padroeira “Santa Teresa D’ávila”.

São 165 anos de CIDADE e Tefé sempre confiará na altivez de seus filhos Escritores, Advogados, Médicos, Engenheiros, Arquitetos, Promotores, Juízes de Direito, bons profissionais e, sobretudo, grandes mestres e educadores, formados pelos Padres da Congregação do Espírito Santo e pelas Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, pioneiros da educação em Tefé.

PARABÉNS, TEFÉ!

PARABÉNS, TEFEENSES!

 

Manaus, 14 de junho de 2020

 

 

 

 

 

 

 

 

Raimunda Gil Schaeken

Tefeense, professora aposentada, católica praticante,

É membro efetivo da Associação dos Escritores do Amazonas-ASSEAM, da Academia

de Letras, Ciências e Artes do Amazonas-ALCEAR, da Associação Brasileira de

Escritores e Poetas Pan-Amazônicos-ABEPPA, da Academia de Letras do Brasil-ALB-AM, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil- AJEB-AM e da Academia de Letras e Culturas da Amazônia-ALCAMA.

BIBLIOGRAFIA: arquivo do autor

 

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