Monitoramento na Reserva Mamirauá gera dados sobre a dinâmica da floresta de várzea

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A floresta é um ambiente dinâmico, em frequentes transformações. No complexo e variado ecossistema da várzea amazônica, essas modificações sofrem ainda a interferência do ciclo das águas, com os picos de cheia e seca. Pesquisadores do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, buscam monitorar e avaliar essas transformações na ecologia da floresta de várzea, comparando os dados obtidos em dois ambientes: várzea alta e várzea baixa, considerando as diferentes características das áreas estudadas. Também serão analisadas as transformações florestais em áreas que passarão por manejo florestal, visando comparar com os dados obtidos em áreas que não são abarcadas pelo manejo.

A pesquisa propõe gerar dados para subsidiar atividades do manejo florestal. “A pesquisa nas ciências naturais sempre deve ser interligada com o manejo. A ciência e a pesquisa vão servir como ferramentas para o subsídio do manejo florestal, para embasar o aprimoramento das técnicas, ou a criação de novas técnicas. Não é possível manejar, usar a floresta, sem entender as diversas interações que existem, sejam com clima, com solo, com fauna e com flora. Pesquisa e manejo andam lado a lado, numa parceria mútua”, ressaltou Wheriton Fernando Silva, pesquisador do Instituto Mamirauá.

Na etapa atual do projeto, os pesquisadores estão trabalhando na instalação de parcelas permanentes, que são áreas demarcadas na floresta e acompanhadas periodicamente, com o levantamento de informações como espécies presentes, altura e diâmetro das árvores, por exemplo. “A floresta em si, diferente de outros temas de pesquisa, não produz respostas em curto prazo. É necessário um acompanhamento longo. O objetivo geral do projeto é realizar o acompanhamento da floresta através da aplicação e monitoramento das parcelas permanentes”, contou o pesquisador.

A pesquisa é realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) e contempla áreas no Horizonte e no Jarauá, dois setores da unidade de conservação. De acordo com Wheriton, algumas áreas da Reserva já são monitoradas pelo Instituto. Os dados coletados nessas áreas ajudarão os pesquisadores a compreender as diferenças entre a dinâmica florestal na várzea alta e várzea baixa. “Obtendo uma série histórica de uma área que não passou por exploração e outra que passou, pode-se gerar resultados mais evidentes das transformações naturais da floresta, além de serem bases importantes para a comparação e avaliação do manejo florestal”, disse.

Wheriton explica que o ambiente de várzea pode ser categorizado de acordo com a topografia do terreno e o tempo de alagação. Essas são as principais diferenças entre as florestas de várzea alta e baixa, a primeira geralmente se localiza a cerca de 50 metros acima do nível do mar, pode alcançar alturas de até três metros de nível da água no período de inundação, ficando até 120 dias do ano alagadas. Enquanto a segunda tem um nível de alagamento que varia entre três e cinco metros, com duração aproximada de 120 a 180 dias.

“Um dos fatores iniciais, entre os aspectos observados na pesquisa, é a própria composição de espécies, visto que a grande maioria se repete nos dois ambientes. Porém, há a diferenciação entre espécies adaptadas e exclusivas para cada tipo de várzea, adaptadas principalmente ao tempo de inundação”, disse o pesquisador. De acordo com Wheriton, também é avaliado o crescimento dessas espécies, considerando o período de “hibernação” que podem passar, em função da alagação das áreas.

O pesquisador explica que, neste ano, foram instaladas parcelas permanentes em seis áreas, medindo um hectare cada. São parcelas retangulares, contendo 16 divisões contínuas de 25m², com demarcações fixas. As árvores, com o mínimo de 10 cm de diâmetro, à 1,30m do solo, são medidas e marcadas com placas de alumínio. Depois de instaladas, as parcelas são monitoradas periodicamente. Também é mapeada a regeneração natural, com a medição de uma faixa central na parcela, na qual todos os indivíduos entre 1 cm e 9,9 cm de diâmetro à 1,30m do solo, são marcados, medidos e identificados.

“Essas informações vão para nosso banco de dados. E, no próximo ano, a gente faz uma remedição desses indivíduos. E, assim, podemos ter uma base por exemplo de quantos indivíduos morreram, ou se surgiram novos que ainda não atingiam o tamanho mínimo na primeira marcação. Vemos esses processos da floresta, como ela está reagindo”, ressaltou o pesquisador.

A pesquisa conta com recursos do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o pagamento de bolsas.

Com informações da Assessoria  Foto: Marcelo Ismar Santana