A equipe do JN no Ar viajou para a cidade de Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas – por onde milhares de haitianos têm entrado ilegalmente no Brasil.
O avião do JN no ar decolou de Brasília às 21h30 em direção ao oeste, com um fuso-horário que deixa a equipe em desvantagem de duas horas em relação a Brasília. Às 22h40, hora local, 0h40, hora de Brasília, o avião pousou em Tabatinga. Do aeroporto, seguidos por uma caravana de motos, a equipe do JN no Ar seguiu direto para a praça da Igreja Matriz, no centro da cidade.
É o ponto de encontro noturno dos haitianos que há meses chegaram ao Brasil. Quase sempre, pela mesma rota: República Dominicana, Panamá, Equador e Peru.
Marcelo chegou ao Brasil há dois meses. É dele que se ouve, pela primeira vez, uma reclamação comum entre os haitianos: a demora em conseguir o visto de permanência no país.
Segundo o Ministério da Justiça, só em 2011, 4 mil haitianos ingressaram no Brasil – a um custo que varia de US$ 2 mil a US$ 4 mil, em gastos com passagens e com os coiotes: atravessadores que prometem uma vida melhor no Brasil.
Marcelo diz que os coiotes receberam e guiaram os haitianos sem causar problemas. Quando o dia clareou, bem cedo, a equipe foi a algumas casas da cidade onde os haitianos estão hospedados. Em uma delas, até 12 pessoas estavam amontoadas, dormindo em quartos minúsculos.
Os vizinhos da hospedaria se sentem incomodados com a presença dos haitianos. “Tira um pouco a nossa privacidade”, diz uma moradora.
Segundo Ministério da Justiça, pelo menos 1,6 mil haitianos já tiveram a situação regularizada no Brasil. E muitos deles já começaram a trabalhar. Na obra de pavimentação de uma rua, no centro de Tabatinga, alguns deles foram encontrados.
O coordenador da obra diz que gosta do trabalho dos haitianos, que ganham R$ 25 de diária. “Nossa meta é contratar mais haitianos para trabalhar com a gente”, diz Josenir Ramos.
Eles também trabalham no porto da cidade, descarregando material dos barcos que chegam de Manaus. O porto é praticamente a fronteira do Brasil com o Peru, de onde vêm os haitianos.
Na ilha, poucos haitianos, que já estão há tempos no Brasil e vão aos orelhões para ligar para a família. No meio da tarde, dezenas de haitianos chegaram à ilha de Santa Rosa. Depois de passar pela imigração, eles são liberados para viajar de barco até Tabatinga.
Nos últimos sete dias, 135 haitianos cruzaram a fronteira. Por isso, 135 é o número de kits distribuídos pela Organização Médicos Sem Fronteiras. Dentro de sacos verdes, rede de dormir, pratos, talheres, copos, baldes, sabonetes, pasta e escova de dentes.
A representante da Pastoral da Mobilidade Humana do Alto Solimões, diz que a igreja só conta com doações. E pede ajuda às autoridades. “Nenhuma ajuda federal, nenhuma ajuda estadual, nenhuma ajuda municipal”, declara a irmã Patrícia.
“20% da população de Itabatinga está abaixo da linha da pobreza. Então, se eu tenho que priorizar aqui, eu vou priorizar as pessoas nativas de Itabatinga”, justifica o prefeito de Itabatinga Saul Nunes.
Na igreja católica do bairro do Brilhante, todos os dias, centenas de haitianos se reúnem para almoçar. Carmel Flourantin, batizada com o nome de uma montanha em homenagem à Nossa Senhora do Monte Carmel, no Haiti, não vê o marido e os filhos há um ano. Ela reclama das condições em que se encontra, mas sabe que tem um futuro melhor pela frente. “Há uma esperança”, declara.
Apesar das dificuldades, os haitianos não deixam de exibir o orgulho da terra natal.
Nesta terça-feira, o presidente do Peru, Ollanta Humala, baixou um decreto tornando obrigatório o visto de entrada no país para cidadãos haitianos. Já o governo brasileiro, vai
reforçar a fiscalização nas fronteiras e, na próxima quinta-feira (12), vai propor um projeto de resolução ao Conselho de Imigração do Ministério do Trabalho.
Até a aprovação dessa resolução, quem tiver entrado no Brasil vai ter a situação regularizada e vai ganhar visto de trabalho de até cinco anos. A partir daí, os haitianos só poderão entrar no Brasil com o visto que será emitido pela embaixada brasileira em Porto Príncipe.
“A partir dessa data, os que não tiverem visto não poderão entrar no país – e os que entrarem ilegalmente terão obviamente a sua notificação para que sua extradição seja efetivada – como acontece com quaisquer estrangeiro”, declarou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso.
Extraído do: www.globo.com/jn