Apaixonado por futebol, o brasileiro faz da Copa do Mundo uma grande festa de confraternização. O evento que une os povos, faz parar o país a cada partida, para acompanhar a performance da seleção e torcer para que chegue na final e traga a taça para casa.
No meio de todo esse espetáculo, pouca gente se dá conta da grandiosidade do evento em termos de estrutura, e de como a sua montagem pode, de muitas maneiras, impactar o meio ambiente.
Não é por nada que nas últimas edições da Copa uma das grandes preocupações tem sido a de torná-la um evento sustentável. Em 2018, na Copa da Rússia, a FIFA desenvolveu um programa de compensação de carbono, com o objetivo de reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Pela primeira vez, a federação exigiu dos estádios a obtenção da “certificação verde”, a partir do cumprimento de uma série de critérios, dentre eles, o uso eficiente de energia e a implantação de sistemas de captação e reaproveitamento de água da chuva.
Para a Copa de 2022, as exigências foram reforçadas e o compromisso do Catar foi de realizar um evento 100% neutro em emissões de carbono, um desafio e tanto. Algumas medidas foram tomadas nesse sentido, como a construção de um gigantesco viveiro de árvores. A intenção é plantar 9.200 árvores em torno dos locais usados pela Copa, o que corresponde a mais do que o dobro da quantidade que existe hoje no Hyde Park de Londres.
Entre as medidas para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, está, ainda, a escolha de estádios próximos para serem usados por comissões técnicas e jogadores, de forma a facilitar a logística, reduzindo as distâncias e as emissões de CO2 geradas pelos deslocamentos em aviões, por exemplo. A prioridade está sendo dada para o uso de ônibus elétricos e metrôs. Além disso, foi adotado um único local de hospedagem para as equipes, durante todo o torneio. A maior distância entre as acomodações e os estádios é de apenas 75 quilômetros.
Os estádios da Copa todos estão iluminados com lâmpadas de LED, tecnologia que causa menor impacto ao meio ambiente. O projeto segue a mesma linha que vem sendo adotada pelo Governo do Amazonas, no interior, ao substituir as lâmpadas antigas de vapor de sódio, de mercúrio e mistas, por LED, reduzindo a emissão de gás carbônico e de metais pesados na atmosfera. No Catar, estão sendo usadas 70.000 lâmpadas de LED.
Outra novidade é que os estádios da Copa 2022 contam com sistemas de resfriamento ecologicamente corretos. A arquitetura adotada, com tecnologia sustentável, faz com que a temperatura seja mantida de forma natural, sem precisar de ventilação artificial.
Todos os estádios contam com painéis de energia solar e priorizam a luz natural e o uso de energia renovável. Alguns espaços são desmontáveis e, após a Copa, serão reutilizados em outros projetos. É o caso do estádio Ras Abu Aboud, o primeiro do mundo com essa concepção, e a arena Ahmad Bin Ali, que teve 90% dos materiais usados na sua construção, reaproveitados de um estádio antigo demolido.
Os organizadores do evento no Catar se dizem comprometidos em converter a quantidade de CO2 emitida nos espaços da Copa, em créditos de carbono certificados internacionalmente. Estamos falando de algo em torno de 3,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono, conforme as estimativas.
Ações também foram implantadas visando à redução da produção de resíduos e para garantir o descarte adequado do que for gerado durante o evento.
Os resultados de todas essas ações só saberemos mais pra adiante, com os balanços a serem apresentados pela FIFA e com o acompanhamento que certamente está sendo feito de perto pelas ONGs que atuam na área de meio ambiente. Torcemos para que, efetivamente, as notícias sejam boas e que as medidas positivas fiquem como legado para as próximas Copas, ampliando assim a consciência da responsabilidade ambiental.
Faço esse contraponto, porque sabemos das tantas polêmicas que rondam a Copa 2022, questões que não podem ser repetidas nos próximos eventos e que envolvem denúncias de exploração de mão de obra e de grande número de vítimas fatais entre os imigrantes contratados para as obras de infraestrutura para o Mundial. Algo que deixa uma sombra pesada sobre o evento.
Com relação à sustentabilidade, a mensagem que fica para reflexão é de que a preocupação com esse tema não está mais restrita a governos e grandes corporações. A sociedade exige respostas e ações, cada vez com mais vigor, na vida cotidiana. E cada um, individualmente, também tem sua cota de responsabilidade e de participação. Cuidar do planeta é uma obrigação de todos.
Ficamos aqui na torcida pela taça para o Brasil e que o evento tenha êxito no desafio de se tornar sustentável e alcançar a neutralidade na emissão de carbono.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas.