Durante a construção de uma escola em Tefé (AM), um conjunto de urnas funerárias antropomorfas foi encontrado e entregue ao Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá. Os moradores identificaram a relação com o passado da região e doaram os materiais para estudo. A singularidade do achado vem chamando a atenção de pesquisadores que o chamam de “admiráveis urnas novas”. Após análises iniciais, a pesquisadora Jaqueline Belletti, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP) e do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá, identifica em seu trabalho a ocorrência da variedade de urnas funerárias antropomorfas, ou seja, com forma humana, encontradas no rio Tefé. ·.
Segundo a pesquisadora, a Tradição Polícroma da Amazônia, uma categoria de análise utilizada para definir o conjunto de cerâmicas pré-coloniais sul-americanas, cujos vestígios são encontrados desde os afluentes do Alto Amazonas até o começo do baixo Amazonas e Rio Madeira, tem como um dos seus principais elementos a presença de urnas funerárias antropomorfas. Entretanto, segundo a pesquisadora, ao longo de sua dispersão geográfica é encontrada uma grande variabilidade.
“De modo mais específico, entre as urnas funerárias vemos uma diversificação de sua composição morfológica e representação de elementos antropomorfos, destacadamente nos casos de posição do rosto e representação dos braços, pernas e sexo. Muito pouco ainda é possível dizer sobre a variação cronológica dessas urnas e seus contextos de deposição, visto que grande parte das urnas que conhecemos atualmente foi encontrada por moradores locais e há escassos registros de urnas escavadas em contexto por arqueólogos”, explica Jaqueline.
No estudo da variabilidade de urnas antropomorfas encontradas especificamente no Rio Tefé, em comparação com as demais urnas da chamada Tradição Polícroma da Amazônia encontradas em outras regiões, a pesquisadora constatou grande variabilidade dentro das morfologias funerárias da mesma tradição, mesmo em um contexto geograficamente restrito como o Rio Tefé, estando aí uma das singularidades das urnas da comunidade Tauary. “Tais urnas são as primeiras a evidenciar de forma clara a presença de bancos para assentar os corpos representados além de uma diversidade de elementos ornitomorfos e antropomorfos entre os apliques de tampas”, ressalta a pesquisadora.
Foto: Erêndira Oliveira