Cientistas do Instituto Mamirauá estão percorrendo rios, lagos e igarapés das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no noroeste do Amazonas, em busca de amostras de fezes de peixe-boi amazônico. A procura, que pode parecer estranha à primeira vista, faz parte de uma pesquisa que visa ao conhecimento do processo de reprodução da espécie em vida livre.
O estudo é parte do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert), desenvolvido por pesquisadores do Instituto Mamirauá, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras ambiental.
Com um acervo de mais de 300 amostras fecais, algumas coletadas há quase duas décadas, os pesquisadores querem analisar as variações nas taxas de hormônios sexuais: os hormônios femininos progesterona (responsável pela manutenção da gestação) e estradiol (ligado à função cíclica ovariana); e o hormônio masculino testosterona (ligado ao funcionamento dos testículos).
Segundo a médica veterinária Carolina Oliveira, que realiza o estudo, são escassos os relatos científicos sobre a reprodução do peixe-boi amazônico em ambiente silvestre. “Os dados que se tem são, na grande maioria, provenientes de animais de cativeiro. Em vida livre pode ser diferente, já que soltos os animais recebem influência direta de fatores como a variação do nível da água nas estações de seca e cheia e disponibilidade de alimento”, diz a veterinária.
Segundo Carolina, por meio do estudo da variação das concentrações hormonais é possível estimar em que época do ano os peixes-boi acasalam e em quais épocas as fêmeas estão parindo. Para extração de dosagens de hormônios, é utilizado somente 0,5 grama de fezes.
Os pesquisadores procuram por fezes nas “comedias”, que são concentrações de plantas aquáticas remexidas por peixes-boi durante a alimentação. As amostras coletadas são identificadas e armazenadas em refrigeradores localizados nas bases de pesquisa. Posteriormente, o conteúdo é transportado para a sede do Instituto Mamirauá, na cidade de Tefé, onde as amostras serão analisadas.
Pesquisas com exemplares da espécie em cativeiro indicam que o peixe-boi tem baixa capacidade de se reproduzir. A fêmea do peixe-boi só tem um filhote a cada três anos e precisa amamentar a cria por dois anos.
De acordo com a veterinária, a vantagem da coleta de amostras fecais está no fato de a pesquisa obter dados sobre a biologia do peixe-boi sem a necessidade de capturar animais, processo que seria danoso aos animais pelo estresse causado, além de ser caro.
Texto e foto: Augusto Rodrigues