Estudo busca alternativas para a conservação de botos amazônicos

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em todo o mundo, a captura acidental em redes de pesca é a principal causa de morte de pequenos cetáceos, grupo que inclui as duas espécies de botos amazônicos, o boto vermelho e o tucuxi. Na região de Tefé, importante entreposto pesqueiro no noroeste do Amazonas, o projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert) está desenvolvendo um estudo para avaliar a interação entre a atividade pesqueira no município e os botos.

Desde setembro do ano passado, a bióloga Iara Ramos faz monitoramento semanal em toda a área do lago Tefé (cerca de 60 Km²), para resgatar carcaças de botos para a realização de necropsia. O objetivo é registrar o número de animais que morrem presos em equipamentos de pesca na região. Em cinco meses, a pesquisadora confirmou a morte de dois botos, um tucuxi e um boto vermelho, por captura acidental em redes de pesca, e uma morte por agressão de um boto tucuxi, que apresentava traumatismo craniano.

Durante a atividade de monitoramento do lago, a bióloga realiza entrevistas com os pescadores, para avaliar quais as percepções desses profissionais sobre os botos. “Em geral, os pescadores encaram o boto como um competidor pelo recurso pesqueiro. O fato de os botos tirarem o peixe e danificarem a rede traz prejuízos aos pescadores, motivando as agressões aos animais”, diz a bióloga.

A pesquisa também registra os locais de pesca e quais tipos de apetrechos estão sendo utilizados pelos barcos pesqueiros e por pescadores artesanais. Os locais mais utilizados pelos botos para a alimentação e descanso são marcados por GPS.

Iara Ramos afirma que os registros de morte acidental e por agressão de botos são de extrema importância para a busca por alternativas de conservação destas espécies, pois a ciência ainda desconhece o impacto dessas circunstâncias às populações de botos na Amazônia.

Segundo a bióloga, a pesquisa pode ser a base para a adoção de estratégias de sensibilização dos pescadores para liberar os botos que se prendem às redes e sobre o uso de equipamentos de pesca que diminuam as chances de capturas acidentais. A pesquisa também pode subsidiar definições de normas para a atividade pesqueira na região, como a orientações sobre locais ou épocas mais apropriados para a pesca, que não afetem ou causem menor impacto aos botos amazônicos.

”Sabemos que é um problema que está diretamente ligado à economia do município. Encontrar soluções que equilibrem a atividade pesqueira com a conservação de cetáceos é crucial para o sucesso de políticas socioambientais que venham a ser adotadas”, conclui a pesquisadora.

Conservação

O boto vermelho e o tucuxi são espécies-alvo do projeto Aquavert, desenvolvido pelo Instituto Mamirauá com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. O projeto visa consolidar estratégias e propor novas ações de conservação para as espécies de mamíferos aquáticos, jacarés e quelônios que habitam as Reservas Mamirauá e Amanã, na região do curso médio do rio Solimões, no estado do Amazonas.

Fonte: ascom

Foto: Augusto Rodrigues