Liberdade: peixes-boi são reintroduzidos à natureza em Unidade de Conservação no Amazonas

No último sábado (18), cinco peixes-boi foram reintroduzidos à natureza na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no noroeste do Amazonas. Sobreviventes de ataques de caçadores ou de acidentes com redes de pesca, os animais viviam sob os cuidados do Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária, mantido pelo Instituto Mamirauá na Reserva Amanã.

Todos os animais devolvidos à natureza no último sábado chegaram ao Centro de Reabilitação ainda filhotes. O animal mais velho, Piti, tem idade estimada de quatro anos e meio, e é considerado um peixe-boi juvenil. Completam a lista Alagoilton e Negão, ambos com três anos, e Jovenal e Benguela, estes com idade estimada em dois anos, ainda considerados filhotes, uma vez que dois anos é o tempo que a fêmea do peixe-boi amamenta e acompanha sua cria.

A operação para a soltura dos animais reabilitados iniciou no início da manhã. A logística envolveu 14 pessoas, entre tratadores, veterinários e pessoal de apoio. Foram necessários muita força e cuidado para retirar os animais do cativeiro semi-natural onde viviam, no lago Amanã, e transportá-los de voadeira (lancha rápida) até o local escolhido para a soltura, o igarapé do Juá Grande, curso d´água estreito e com grande oferta de plantas aquáticas, tipo de ambiente favorito dos peixes-boi de vida livre.

Para levar os cinco peixes-boi até o igarapé, foram realizadas três viagens de voadeira. O tempo de deslocamento dos peixes-boi até o local da soltura foi de aproximadamente 25 minutos. Durante o trajeto, os animais foram envoltos em toalhas e eram constantemente molhados pelos tratadores, cuidado necessário para evitar a desidratação da pele dos bichos.

Na chegada ao igarapé Juá Grande, os peixes-boi eram içados da voadeira e colocados em uma área de contenção, para que os veterinários pudessem observar as reações dos animais ao ambiente e ao estresse causado pelo transporte. A contenção foi aberta por volta de 12h30, mas os cinco animais não saíram imediatamente do recinto. Após aproximadamente uma hora e meia, Piti Aranapu foi o primeiro a sair do cercado. Ele logo embrenhou-se no emaranhado de plantas aquáticas do igarapé. Após cerca de quatro horas, todos os peixes-boi já haviam deixado a área de contenção.

“Não há uma estimativa do tamanho da população natural de peixe-boi amazônico, mas acredita-se que essa população não esteja estável, mas em declínio. Essa é a grande preocupação, por isso que se continua protegendo e estamos buscando, de todas as formas, reverter esse quadro”, disse a oceanógrafa Miriam Marmontel, coordenadora do Projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert), desenvolvido por pesquisadores do Instituto Mamirauá com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental.

Quatro peixes-boi receberam em suas caudas um cinto equipado com um transmissor de sinais de rádio, por meio do qual os pesquisadores do Projeto Aquavert pretendem monitorá-los, diariamente, por dois anos – o peixe-boi Alagoilton não pôde receber o cinto, pois seu penduculo caudal, sua “cintura”, era muito estreita para a adaptação do equipamento.

Este foi o primeiro evento de reintrodução do Centro de Reabilitação de Peixes-Boi Amazônicos, que é autorizado pelo Ibama, sob a classificação de criatório conservacionista. Segundo o órgão ambiental, o peixe-boi amazônico é vulnerável à extinção.

Sobre o peixe-boi amazônico

Na natureza, o peixe-boi exerce a função ecológica de fertilizador das águas. Por ser herbívoro, consumidor de grandes porções de plantas aquáticas diariamente, ele devolve nutrientes à água por meio de suas fezes, que acabam servindo de alimento para diversas espécies de peixes e de adubo para a vegetação.

A caça para subsistência – com comercialização em pequena escala – e os acidentes em redes de pesca são as maiores ameaças à espécie.

Mais informações em www.mamiraua.org.br/aquavert

Texto: Augusto Rodrigues

Foto: Divulgação