Na temporada de reprodução, pesquisadores estudam jacaré-açu

Na Amazônia, o maior predador da América do Sul está sendo acompanhado de perto pelos pesquisadores do Projeto Aquavert. Trata-se do jacaré-açu, um animal que pode ultrapassar os cinco metros e pesar uma tonelada, e que carece de estudos sobre seus hábitos reprodutivos. Por isso, o esforço dos biólogos em monitorar mais de 400 ninhos de jacaré-açu, durante a época de reprodução – que acontece no período de seca da Amazônia, entre maio e setembro. Desses ninhos, uma amostra de 12 recebeu atenção especial e estão sendo observados de perto. “Entender a biologia e ecologia reprodutiva do jacaré-açu é relevante para definir e implementar estratégias claras que garantam a preservação da espécie, e dos ecossistemas amazônicos em geral”, afirma Robinson Botero-Arias, pesquisador responsável pelos estudos sobre jacarés do Aquavert.

Uma curiosidade, é a possibilidade de que as fêmeas de jacarés-açu tenham mais de um pai por ninhada. O fato, se comprovado, é benéfico para a espécie, pois aumenta a diversidade genética em uma população, o que contribui para sua estabilidade. As fêmeas, segundo Robinson, são verdadeiras “mãezonas” e estão sempre “presentes e ativas, garantindo a sobrevivência de seus filhotes”.

Faltam dados sobre o status da população do jacaré-açu (e de todos os outros jacarés amazônicos) porque eles ainda não foram devidamente pesquisados. Por causa disso, os jacarés-açu são considerados, no mundo, pela União Internacional para a Conservação da Natureza , como animais dependentes de programas de conservação. Situado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, o Projeto Aquavert faz esse papel. Ele é desenvolvido pelo Instituto Mamirauá apoiado pela Petrobrás. No local, há os maiores registros de densidade desse animal, e pesquisadores já chegaram a registrar mais de 400 jacarés por km².

O jacaré-açu ganhou fama de perigoso com o ataque à bióloga Deise Nishimura, no final de 2009, em Mamirauá. Nishimura perdeu a perna e sobreviveu por pouco. O animal que a atacou gostava de dormir embaixo da casa flutuante que ela ocupou durante período de pesquisa na Amazônia. Ela percebeu a presença do animal, e chegou a apelidá-lo de Doroteia, mas não antecipou o ataque. Apesar da mutilação, não desistiu da profissão nem da Amazônia. Ela relatou como superou o trauma no TEDx Amazônia.

Ataques como esse são raros, e Robinson defende que apesar do arraigado preconceito que existe contra o animal, devido em boa parte, ao seu grande porte, “o jacaré-açu é um animal tímido, que evita confrontos. Eles só costumam atacar quando se sentem ameaçados ou estão protegendo seus ninhos ou filhotes.”. Muitos ribeirinhos, por temerem os jacarés, os matam; foi o que aconteceu com Dorotéia, fato lamentado, inclusive por Nishimura.

Por Duda Menegassi publicado em: www.oeco.com.br