Desde agosto, pesquisadores do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert) vêm acompanhando a temporada de reprodução de tracajás, iaçás e tartarugas-da-amazônia nas praias da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no município de Tefé.
O trabalho é um exercício de paciência que começou a ser recompensado em novembro, com o fim do período da seca, quando ocorrem os primeiros nascimentos de filhotes.
Em duas praias e em uma área de lagos da Reserva, os cientistas avaliaram os fatores naturais que podem influenciar positiva ou negativamente no sucesso da reprodução dos quelônios.
Ninhos
Vinte e cinco ninhos de tartarugas, 44 de tracajás e 39 de iaçás estão sendo acompanhados desde o momento da postura dos ovos.
Nesta época, de nascimentos, o trabalho de pesquisa é finalizado com a captura de filhotes para mensuração e pesagem, verificação de deformidades e coleta de amostras sanguíneas.
Nos ninhos monitorados, espera-se que aproximadamente 1875 filhotes de tartaruga, 1100 de tracajás e 585 de iaçás nasçam até meados de dezembro.
Durante a madrugada, quando as fêmeas de tartaruga-da-amazônia, tracajá e iaçá subiam às praias e margens de lagos para desovar, os pesquisadores do Aquavert precisavam estar a postos, percorrendo continuamente as praias de até cinco quilômetros, na tentativa de localizar as fêmeas que vinham desovar.
O trabalho de aproximação do quelônio durante a desova exigia muita cautela. Se o foco das lanternas assustar a fêmea antes do início da postura, ela interrompe sua busca por um local adequado para desovar e se desloca rapidamente em direção à água.
Os cientistas precisavam esperar que as fêmeas terminassem a postura dos ovos, para então capturá-las: até o momento, 32 tartarugas, 13 tracajás e 66 iaçás foram capturadas para a pesquisa.
As fêmeas foram pesadas, medidas e marcadas com sinais no casco e com uma etiqueta plástica, que facilitará a identificação do quelônio em uma próxima captura.
Os pesquisadores também coletaram amostras de sangue ou de tecido das fêmeas. Na atual fase do trabalho, quando os filhotes estão nascendo, esse material biológico será utilizado em testes de paternidade múltipla.
A bióloga Cássia Santos Camillo, responsável pelas pesquisas sobre quelônios no projeto Aquavert, explica que, entre os quelônios dessas espécies, é comum que vários machos fecundem uma fêmea e que ela gere filhotes de diferentes pais. “Se em um ninho vários machos fecundaram a fêmea, é sinal que a população está saudável”, diz a bióloga.
Aquavert
Na região Amazônica, as tartarugas, tracajás e iaçás são espécies tradicionalmente utilizadas pelas populações locais como fonte de alimento.
Embora não estejam classificados como ameaçados de extinção pelo Ibama, as espécies constam na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza: a tartaruga-da-amazônia é classificada como dependente de programas de conservação, e tracajás e iaçás como vulneráveis.
As espécies são pesquisadas pelo projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert), desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. Além dos quelônios, o projeto também desenvolve estudos que visam à conservação de jacarés e mamíferos aquáticos que habitam as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã.
Fonte: acritica.com
Foto: divulgação