Três séculos de caça comercial fizeram do peixe-boi amazônico uma espécie extremamente arisca. Os animais dificilmente são vistos em ambiente natural, o que dificulta o entendimento de sua biologia. No Brasil, a espécie é classificada como vulnerável à extinção, embora não existam estimativas precisas quanto ao status populacional dos peixes-boi.
Desde 2005, a cada estação seca na Amazônia Ocidental, o Instituto Mamirauá vem testando metodologias para contar os peixes-boi no lago Amanã, que dá nome a uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável na região do médio Solimões (cerca de 650 km a oeste de Manaus). Observar o peixe-boi amazônico em ambiente natural é tarefa para olhos treinados, com a experiência de quem nasceu e foi criado em beira de rio. Para a o censo de peixes-boi do lago Amanã, o Instituto Mamirauá conta com a participação de moradores de comunidades do entorno do lago. Este ano, 11 “contadores” de peixe-boi participaram do censo, realizado entre 5 e 8 de novembro.
Nesses três dias, os ribeirinhos se dividiram em 11 pontos do lago, previamente identificados como os pontos de maior profundidade, conhecidos popularmente como “poços”, onde os peixes-boi costumam buscar alimento e local para descanso durante a seca. As observações iniciavam com os primeiros raios de sol e se estendiam até o meio da tarde. Foram identificados 45 animais.
“A gente reconhece o bicho só pela `venta´, quando ele sobe pra respirar. Dá pra diferenciar cada um, e também dá pra saber se é macho ou fêmea: o macho, quando respira, dá uma puxada pra trás. A fêmea não, ela desce logo”, diz o agricultor Elivaldo Pereira Ferreira, 39 anos, contador de peixe-boi.
Elivaldo e os demais contadores conhecem tão bem os hábitos do peixe-boi porque já foram caçadores. Quase todos aprenderam o ofício ainda jovens, com o pai ou avô. Com o avanço da idade, o surgimento de novas alternativas econômicas na região e a própria criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, em 1998, que trouxe para o local as pesquisas e atividades de educação ambiental, os contadores afirmam que abandonaram a caça.
Tecnologia para confirmar informações
Após a contagem comunitária, a assistente de pesquisa Nathalia Monalisa Francisco percorreu os locais onde foram feitos os registros de presença de peixes-boi, rastreando a área com um aparelho de sonar de varredura lateral. O objetivo da atividade, que ocorreu nos dias 8 e 9 de novembro, foi fazer uma espécie de “raio-x” dos poços: o sonar capta sinais acústicos de elementos que estão debaixo d´água e gera imagens que se assemelham a uma radiografia utilizada em consultórios médicos.
“Nós passamos esse aparelho sobre o poço e ele faz o registro em tempo real. Vamos tentar cruzar os dados da contagem dos comunitários com os do sonar de varredura lateral”, explica a assistente, graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais. A mesma tecnologia está sendo testada em no Parque Nacional de Anavilhanas, em parceria com a pesquisadora Cristina Tófoli, do Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Conservação
O Instituto Mamirauá desenvolve pesquisas sobre o peixe-boi amazônico por meio do Projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert), que recebe patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental.
Fonte: Ascom
Foto: Augusto Rodrigues