Tanto no Brasil como em outros lugares do mundo, aproveitadores utilizam o esporte para ganharem dinheiro de forma antiética e imoral. Através de contatos nas federações e nos clubes, pessoas mal-intencionadas alteram resultados e sujam esta modalidade tão empolgante.
Os casos de manipulação de resultados no futebol são bastante comuns, infelizmente.
Na última temporada, tivemos casos investigados aqui no Brasil. Em São Paulo, a Polícia Civil investiga oito casos de manipulação de resultados em jogos das divisões de acesso e categorias de base do Estado. Os casos envolvem vários clubes paulistas. Três deles partiram de denúncias de atletas, árbitros e treinadores. A delegacia vê um crescimento no assédio de jogadores e árbitros feita por grupos locais do próprio estado.
“O caso do Flamengo de Guarulhos, que o menino recebe uma ligação de um advogado, onde fala que existe um grupo de advogados que promovem apostas. Ele propõe ao atleta que leve dois gols no primeiro tempo. Uma aposta nesse sentido paga muito mais nas bolsas de aposta do que o resultado final em si. E ele diz ao atleta que entraria em contato também com o goleiro do Jabaquara para que levasse dois gols no segundo tempo”, explicou o delegado César Saad, que também citou o caso dos escanteios, que chamou muita atenção.
Outro caso mais recente é de um árbitro que foi aliciado para permitir ou garantir que 14 escanteios fossem cobrados numa partida do Campeonato Paulista Sub-20, entre São Bernardo e Red Bull Brasil. O árbitro Willer Fulgêncio dos Santos teria recebido R$ 3.000. “É uma ferramenta específica, você não imagina o quanto pagaria a um apostador se ele acertar quantos escanteios serão cobrados num jogo”. disse o delegado César Saad, da Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade).
Mas não é só no Brasil que acontece a manipulação de resultados. Na Espanha, denúncias levantaram suspeita na primeira e segunda divisão nacional em maio deste ano. Entre os envolvidos estão o caso ex-jogador do Real Madrid, Raúl Bravo e o meia do Real Valladolid, Borja Fernández, que se aposentou na temporada 18/19. Resultado: Vários dirigentes e jogadores foram presos suspeitos de manipulação de resultado.
Maior escândalo da Europa
A Espanha foi apenas um dos países do continente europeu que sofreu com corrupção no futebol. A Europa toda tem casos de investigação e dirigentes estão sendo presos por manipulação de resultados. Ao todo 200 jogos estão sendo investigados, incluindo partidas da maior competição de clubes do mundo, a Liga dos Campeões.
O escândalo foi revelado em novembro na Alemanha e, até agora, 17 pessoas foram presas. Mas ainda é apenas o começo da investigação. A polícia germânica acredita que este é apenas uma pequena parte da manipulação, que pode envolver 10 milhões de euros.
Cerca de 200 pessoas são suspeitas de fazer parte de um esquema de apostas e acerto de resultados de jogos para garantir lucros. Trata-se de uma organização criminosa que pode ter atuado com pagamento de propina para jogadores, técnicos, árbitros e até dirigentes em nove ligas europeias, Liga Europa e a Liga dos Campeões. Estão sendo investigados clubes da primeira divisão da Croácia, Áustria, Turquia, Eslovênia, Bósnia e Hungria e equipes da segunda divisão da Alemanha, Bélgica e Suíça.
Interessada em recuperar e manter a imagem do futebol no Velho Continente, a Uefa está colaborando com as investigações e acredita que os culpados serão encontrados.
“Estamos satisfeitos com os resultados da investigação. Ainda assim, o que está sendo revelado é chocante diante da extensão da manipulação orquestrada por gangues internacionais”, disse o porta-voz da entidade, Peter Limacher.
Nenhuma novidade no Velho Continente A manipulação de resultados não é nenhuma novidade para torcedores e dirigentes do futebol europeu. Em um passado recente, um outro escândalo abalou o futebol no Velho Continente. Em 2013, a Europol conseguiu acabar com uma organização criminosa suspeita de manipular resultados de partidas das Ligas nacionais, Liga dos Campeões e até eliminatórias europeias para a Copa do Mundo.
Esta organização funcionava desde 2008 e teria manipulado 380 partidas com a participação de 425 dirigentes, jogadores e árbitros. Jogos na Alemanha, Suíça e na Turquia, mas a América Latina, Ásia e a África também foram investigados.
Como combater a manipulação
A criação de uma agência internacional especializada no combate a este tipo de fraude no esporte poderia ajudar, no estilo da Agência Mundial de Antidoping, que vem funcionando bem e recentemente resultou na eliminação da Rússia em qualquer competição mundial por fraudar exames antidoping incluindo Olímpiada de Tóquio e a Copa do Mundo de 2022.
Hoje, isto não existe e é de responsabilidade da Fifa tentar combater este tipo de esquema. A entidade maior do futebol chegou a terceirizar esse serviço, contratando a Sportradar, especializada no combate a manipulação de resultados, e alguns casos já estão sendo descobertos. Mesmo assim, ainda estamos longe de acabar com este problema no futebol.
Compliance esportivo
O Compliance não se limita a um mero mecanismo de prevenção à corrupção. Compliance é um programa que visa cumprir asa leis e regras através de ações que envolvam todos os níveis das organizações, definindo uma cultura comportamental mais ética e organizada.
O futebol ainda sofre com a manipulação de resultados e o compliance poderá ajudar nesta empreitada. Investimentos neste programa são necessários para o combate da corrupção e retomada da reputação do futebol, suas entidades e seus representantes.