Os parabéns é um gesto de congratulações com alguém que tem como objetivo desejar coisas boas e, quase sempre, saber notícias e é isso que pergunto de Tefé, no dia de sua autonomia. Respondeu-me: – Vou doente, não me respeitam, nem a meu povo que vive sofrido, e procuro saber: Por quê? Ele se lamenta e responde: – Filho não atiro pedras no passado e nem nego que progredi, me conheces desde tua infância, quando com outros filhos brincavas de ‘bola’ de sernambi nas ruas de terra e capim, de ‘manjas’, ‘barra-bandeira’, tantas brincadeiras simples e sem maldades; carroças de madeiras puxadas por cavalos e junta de bois, que uma era do teu pai, mas, também me orgulho, com marcos de civilização que foram e continuam como o Seminário ‘São José’, com sua tipografia e edição do ‘Seminário’, banda de música, academia, clubes socais, nossa Catedral de Santa Teresa, tudo foi progresso; chegaram instituições públicas e privadas, 16ª. Brigada Militar, Marinha e Aeronáutica, Mamirauá, bancos oficiais e um privado, IBGE, INFRAERO, FUNAI, DSEI, IBAMA [Inst. Chico Mendes], Receita Federal, Estadual etc. como a era digital, com internet, redes sociais que mudaram o comportamento social, para o bem ou o mal.
– Quando do meu Sesquicentenário, 2005, eras vice-prefeito, na administração Sidonio Gonçalves, resgatou-se um pouco do meu passado, com exposições de fotos antigas, desfile, homenagens, etc. de muita coisa que já vinha desaparecendo. No entanto, a falta de compromisso com meu passado, cultura que é exuberante, artes, esqueceram ou foram deturpadas, fiquei pobre, esqueceram minhas origens, valores, tradições e, com suas incompetências deixaram sair parte do meu folclore, vindo de muito longe e daqui dos meus nativos, como a ciranda que foi pra Manacapuru, embora lá ainda se diga a ‘Ciranda de Tefé’, a dança dos nossos Tupebas, ‘Cacetinhos de Tefé’ que levaram pra Manaus, como tantas outras manifestações folclóricas. Não é um crime o que fazem comigo? Hoje, no dia-a-dia, me vejo desfigurado, com políticas públicas equivocadas, sem um projeto expansionista da cidade com um Plano Diretor ousado e viável, agravado do adensamento do Centro Histórico, com construções de um arremedo de porto fluvial que alaga, uma endeusada Feira coberta calorenta, uma Praça de Alimentação espremida, que servem de Cartão Postal para os que vivem lá fora, não para os meus filhos e aos que adotei de todo meu coração, que aqui vivem. É o caos urbanístico! Quem viver verá!
Desabafa:- Por que não me cuidam com amor? Falou indignado, o ensino que dei a vocês foi o melhor do Estado, com Seminário Menor, Colégio das Irmãs Franciscanas, escola profissional das Missões, quando não se fava nisso, Rádio de Educação Rural, a pioneira. Reconheço que se avançou na Educação, com a UEA e particulares, rede pública do ensino fundamental, médio, satisfatória, mais é preciso valorização e respeito aos Mestres, com investimentos. Economicamente, sou forte, e meu empresariado ousado e inovador, falta trabalho, mas ainda é quem emprega; minha sociedade civil organizada, atuante e reivindicadora de seus direitos, com seus sindicatos; no entanto, o setor primário – a produção – abandonado, sem estradas decentes, transportes e insumos; comunidades rurais sem rumo e perspectivas; o projeto do aterro sanitário, com muitos sacrifícios, desde 2014, não se viabilizou; na saúde, o caos, suas autoridades não se entendem, secretária com postura conflituosa com a direção do hospital que é do Estado e, com o agravamento da pandemia, muitas perdas queridas, dor e sofrimento da população, mesmo assim, preferiram ao asfalto que salvar vidas.
– Creio, disse-me ele, faltam conhecimentos e compromissos políticos comigo e meu povo e, refletindo nessas dificuldades, se eu, Tefé, há décadas, sofro do abandono, que se dirá dos municípios menores às margens dos rios e regiões do Médio, Alto Solimões, Japurá e Juruá, sem perspectivas, com um governante alienado da nossa realidade interiorana. Mas, eu, Tefé, não sou só isso e tristeza! Minhas perspectivas são alvissareiras e comprometidas com o amanhã, o futuro, talvez, demore, mas meu destino é inexorável e um dia chegará que, em minha homenagem, 15 de Junho, a festa será como Capital do Estado do Solimões, gloriosa, por minha localização estratégica, luta contra o invasor, destemor dos meus nativos das várias etnias, compreendendo a reunião dos três grandes rios, regiões e povos do Médio, Alto Solimões, Japurá e Juruá, quando aí poderei oferecer a todos, desenvolvimento e condições de vidas dignas. Perplexo com tudo que ouvi, fechei os olhos, me enchi de revolta e pensando no futuro desejei: PARABÉNS, TORRÃO QUERIDO.
Por Abel Rodrigues Alves – Tefeense, Advogado, Ex-Dep. Estadual, Ex-vice prefeito