A pesca de pirarucu na região do Médio Solimões vem tendo um “toque feminino”. Nos últimos anos, a participação das mulheres na atividade até então predominantemente masculina está crescendo. Com esse cenário, o Instituto Mamirauá iniciou em 2014 um projeto de pesquisa com o objetivo de caracterizar o trabalho e o perfil das mulheres que participam de projetos de manejo de pesca nas Reservas Mamirauá e Amanã.
“Queremos saber o que essas mulheres estão fazendo, como estão participando dessas atividades, se estão associadas às colônias, aos sindicatos de pescadores. Precisamos dar visibilidade a esse trabalho, pois à medida que isso é registrado, elas têm mais facilidades para garantir a aposentadoria, o seguro defeso, e os outros benefícios sociais que o homem já tem como pescador”, afirma Isabel Soares de Sousa, pesquisadora do Instituto Mamirauá.
Atualmente são 420 mulheres e 712 homens participando dos projetos de manejo de pesca desenvolvidos na área da Reserva Mamirauá, e 120 mulheres e 324 homens na Reserva Amanã. O que representa um percentual expressivo de participação feminina na atividade nessa região, de 34,26%. Em cinco, dos dez acordos de pesca assessorados pelo Instituto Mamirauá, foi observada a participação feminina em diversas etapas do manejo.
Para Milce Cordeiro de Carvalho, do Acordo de Pesca do Cleto, não há distinção entre o trabalho da mulher e do homem na pesca. Ela também participa de várias etapas do manejo, da pesca com arpão até o tratamento do peixe. “Tudo que posso fazer, eu faço. Todo mundo tem que colaborar. A gente se uniu e assim ficou mais fácil, a gente vai vencendo a batalha, um ajudando o outro. O serviço do homem é igual o meu trabalho, o que ele sabe fazer, eu também sei”, enfatiza Milce.
Segundo Elane Carvalho Marques, da comunidade São Raimundo do Jarauá, na Reserva Mamirauá, a pesca faz parte da sua rotina desde a infância. Filha de pescador, iniciou aos 14 anos o trabalho na Associação de Produtores do Setor Jarauá (APSJ), como secretária. O tempo foi passando e atualmente ela faz parte tanto da diretoria da APSJ quanto da coordenação do acordo de pesca, trabalhando como tesoureira.
No ano de 2014, a cota de pesca estabelecida pelo Ibama para a comunidade foi de 1.136 peixes. Participam do acordo mais de 50 pescadores e é Elane a responsável pela organização das finanças, como pagamento de pessoal e recebimento do recurso proveniente da pesca do pirarucu e também de outros peixes. “Jarauá é uma comunidade pesqueira, vive e sobrevive da pesca. Aqui as mulheres estão envolvidas e são avaliadas também. Trabalham na vigilância, contagem, evisceração. Onde tem uma mulher, o trabalho vai direito”, brinca.
Texto: Amanda Lelis
Foto: Eunice Venturi