Na última semana, o Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, devolveu à natureza um peixe-boi que há dois anos estava aos cuidados da equipe no Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária, o Centrinho. A soltura aconteceu em um lago na Reserva Amanã, município de Maraã (Am). Cassi, como era chamado o filhote, era a caçula do Centrinho. Chegou em 2014, com aproximadamente oito meses, pesando 45Kg e medindo 1,25m. Na data da soltura, Cassi estava com 128kg e 1,86m, indicativos do bom desenvolvimento do filhote durante a reabilitação.
Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá, destaca que os animais ficam aos cuidados da equipe, que conta com veterinários, biólogos, educadores ambientais e técnicos, além dos comunitários que também participam e contribuem para os cuidados. “Todos os animais que soltamos é porque passaram pelo processo de reabilitação e foram considerados aptos, baseado em tamanho, peso, comportamento e exames de saúde. Aptos a serem soltos e consequentemente preparados para a vida em ambiente natural”, reforçou.
De acordo com a pesquisadora, a região da soltura foi escolhida de forma a contribuir para a readaptação do animal em vida livre. “O lago apresenta grande quantidade de alimento disponível (macrófitas aquáticas), muitas ressacas e recantos para o animal se esconder, e também a presença de outros peixes-boi (como atestado pelos comunitários), e é um lago protegido, de preservação, e a soltura teve a concordância da comunidade”, disse.
Após a soltura, Cassi continua sendo acompanhada, por meio de radiotelemetria. Foi adaptado um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio na cauda e a equipe do Instituto monitora o deslocamento do animal na região. “Cassi agora precisará se readaptar ao ambiente natural, explorar seu ambiente muito mais expandido, encontrar locais de abrigo e de alimentação. O monitoramento nos permite acompanhar remotamente estes deslocamentos e comportamentos, e avaliar sua readaptação”, disse Miriam.
Miriam ressaltou que o monitoramento também é importante para acompanhar os movimentos do peixe-boi de acordo com a variação do nível da água. De acordo com a pesquisadora, a equipe verifica se o animal aprenderá a fazer a rota migratória que o levaria de volta a seu local de origem, se permanecerá no lago da soltura ou se buscará outro local para se estabilizar. “Cada animal é diferente, faz suas próprias escolhas, e algumas podem ser equivocadas e nesse caso teríamos que intervir”, completou a pesquisadora.
Histórico
Esse foi o quarto evento de soltura de peixes-boi amazônicos reabilitados, realizado pelo Instituto Mamirauá. O último aconteceu em janeiro de 2015, quando seis peixes-boi foram devolvidos à natureza. Os animais também receberam cintos com radiotransmissores e continuam sendo monitorados.
Miriam destacou exemplos bem-sucedidos do monitoramento por telemetria realizado pelo Instituto. “O Piti foi o grande caso de sucesso. Foi o primeiro animal a deixar o lago de pré-soltura depois que a água começou a subir e, com a subida da água, ele fez a rota migratória como um animal nativo, o que nos sugere que tenha sido acompanhado por outro animal. Além do Piti, um macho e duas fêmeas permanecem sendo monitorados nas imediações do lago Amanã”.
Com a soltura da Cassi, um animal ainda permanece em reabilitação no Centrinho, um criatório conservacionista autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama). A ação conta com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o pagamento de bolsas.
Com informações da assessoria Foto: Amanda Lélis