Os preços internacionais do café chegaram a subir 40% entre agosto e setembro e essa valorização vai chegar nas gôndolas dos supermercados em breve. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), as indústrias negociaram reajustes de 10% a 15% nos preços do café com o varejo.
“O reajuste vai ser repassado a partir de agora. Em alguns casos, os preços foram comunicados no início do mês, mas como os supermercados só foram às compras a partir da segunda quinzena, o reajuste deve chegar nas prateleiras a partir da semana que vem”, disse o presidente da Abic, Pavel Cardoso.
As vendas de café no varejo brasileiro acumulam queda de 5,41% no acumulado de janeiro a agosto, comparado com o mesmo intervalo de 2024, totalizando 9,56 milhões de sacas. Em agosto, as vendas recuaram 4,23% em relação ao mesmo mês do ano passado, mas subiram 10,97% em relação a julho de 2025.
O preço médio do café tradicional ou extraforte atingiu R$ 62,83 por quilo em agosto, com aumento de 48,57% no acumulado de 12 meses. A categoria com maior reajuste no período foi a de café solúvel, com alta de 50,59%, para R$ 252,36 o quilo. O preço médio do café especial subiu 32,45%, para R$ 145,17 o quilo.
O preço médio do café em cápsula foi o único a apresentar queda no período, de 1,43%, para média de R$ 413,73 o quilo. O drip coffee teve redução de 0,3%, para R$ 242,99 o quilo.
Pavel disse que os dados preliminares de setembro indicam aumento do consumo, apesar do aumento nos preços. “Vimos uma virada do consumo. Os dados parciais de setembro mostram um aumento do consumo, o que nos leva a crer que possivelmente vamos fechar o terceiro quadrimestre com crescimento e o ano de 2025 com números muito parecidos com 2024”, afirmou o executivo.
Estoques e safra
O executivo observou que os preços no mercado internacional subiram por conta da colheita abaixo do esperado no café arábica brasileiro. Os estoques globais baixos, o clima irregular e o tarifaço americano também contribuíram e ainda contribuem para o cenário de maior volatilidade.
Pavel disse que a expectativa recai agora sobre a safra 2026. Ele observou que as notícias até o momento são de uma boa florada, com uma possível safra recorde em 2026, se não houver quebra por conta de clima. Por enquanto, a expectativa é que o próximo ano tenha prevalência do efeito climático La Niña, que provoca nas regiões de produção de café temperaturas mais amenas e estabilidade nas chuvas.
“A tendência agora é que os preços sigam de lado até que surja alguma novidade relacionada com impacto do clima na safra nova”, disse o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva.
Segundo a Abic, mesmo que o Brasil tenha uma safra recorde em 2026, isso não será suficiente para recompor estoques de café. “A gente precisava de mais três safras muito boas para que o estoque fosse recomposto”, afirmou Silva.
Fala de Trump eleva expectativa de isenção de tarifas
Para a Abic, as ações mais recentes do governo americano em relação ao Brasil aumentaram a expectativa da indústria brasileira de café de uma isenção nas tarifas de importação do produto. O café ficou no “anexo V” da ordem executiva da Casa Branca, que menciona a possibilidade de isenção em caso de um acordo comercial entre os países.
Na terça-feira (23/9), em discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que abraçou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tiveram uma “química excelente” e devem se encontrar na próxima semana.
“O abraço entre os dois já teve um bom efeito no mercado. Esse gesto e a ordem executiva indicam que os Estados Unidos ouviram o mercado e entenderam o quanto o café e o setor de carnes são sensíveis em relação à inflação americana”, afirmou o presidente da Abic, Pavel Cardoso.
*Com informações Globo Rural